Com certeza você já ouviu falar na proporção áurea, número “mágico” que traduziria a proporção perfeita da natureza. O número representado pela letra grega Phi, de valor aproximado igual a 1,618 seria a chamada proporção de ouro, presente em inúmeros elementos da natureza, inclusive nos dentes, no sorriso e no rosto. Supostamente usada por Leonardo DaVinci em suas pinturas e trabalhos. Será?
Analisar um sorriso é complexo. Existem muito elementos, curvas, proporções, texturas, cores e detalhes a serem observados. Muito dificilmente vamos encontrar sorrisos perfeitos, sem nenhuma falha. Isso porque a natureza é assimétrica, assim como nossas faces não são simétricas.
São muitos detalhes! Tudo isso deve se relacionar com o rosto da pessoa, com a idade, com o formato da cabeça, entre outras medidas. A cor da pele também é um determinante para a cor da gengiva e para a escolha da cor dos dentes.
Reconstruir um sorriso do “zero”, requer uma habilidade quase que artística do cirurgião dentista. A análise precisa avaliar inúmeros elementos como a estética gengival, posição labial, tamanho, formato e cor dos dentes, além da sua posição tridimensional na arcada, oclusão (encaixe), proporções e etc. Existem várias medições, linhas, pontos craniofaciais e proporções que podem ser utilizadas como guias para uma reconstrução de um sorriso.
Para resumir, a proporção áurea como conhecemos hoje foi descrita pela primeira vez por Euclides, na Grécia antiga e veio sendo estudada e revisitada por matemáticos ao longo dos séculos. Tem íntima relação com a série de Fibonacci, uma sequência de números onde a divisão de um número pelo anterior da série chega próximo do número 1,618. A proporção é encontrada na arquitetura, na pintura, na música e na própria natureza, como em algumas flores, em algumas conchas do caramujo Nautilus, em medidas corporais e até nos dentes.
Então quer dizer que da para basear todos os sorrisos na proporção áurea? Aí é que é preciso ter muito cuidado. Proporção áurea é uma ferramenta e não uma regra. Se o seu sorriso não está na proporção áurea, não quer dizer que ele não vai ser um sorriso harmônico. Outra confusão muito comum é com a simetria. Simetria não é harmonia. Simetria nem sempre é sinônimo de beleza. Se não, estaremos produzindo “sorrisos em série”, todos iguais, com a mesma cor e artificiais. E a Odontologia deve prezar por imitar o natural.
A importância dada à proporção de ouro é muito exagerada. Eu não diria que ela é um mito, mas você não pode sempre se basear apenas nela para reconstruir dentes e sorrisos. Ela pode servir de guia em alguns casos. Apesar de ser muito difundida, a proporção não está em todos os lugares da natureza e não é o número mágico da beleza. Muitos estudos científicos recentes provaram isso. Além disso, ter a proporção áurea não significa que aquele objeto ou pessoa é bonito ou bonita.
Na hora de devolver sorrisos para as pessoas os cirurgiões dentistas devem ter em mente que a expectativa do paciente deve ser alinhada ao trabalho de análise do sorriso. Às vezes o que é bonito para você, não é bonito para ele e vice-versa. A maestria está em chegar a um consenso que produza um resultado estético natural e saudável, com segurança e durabilidade, respeitando os tecidos da boca e todas as medidas do sorriso.