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RADIAÇÃO IONIZANTE, MAMOGRAFIA E CÂNCER DE TIREOIDE

Você já deve ter recebido por WhatsApp ou lido no Facebook um texto em que o Dr. Drauzio Varella, médico oncologista, supostamente associa o aumento (?) do número de casos de câncer de tireoide em mulheres com a exposição à radiação ionizante de radiografias dentárias e mamografias.

O DR. DRAUZIO FALOU ISSO MESMO?

Vamos deixar bem claro: o Dr. Drauzio nunca fez nenhuma afirmação nesse sentido. É um hoax, um boato que já circulava em 2015 e voltou agora. Tem um vídeo em que ele fala só de mamografia, e em nenhum momento ele diz que esse tipo de exame representa risco à saúde, sequer menciona a existência de colar de chumbo protetor de tireoide. Você pode procurar no site dele, no post sobre nódulos na tireoide não há qualquer menção a radiografias odontológicas ou mamografias, quanto mais ao suposto perigo que elas representam. Seria o melhor lugar pra falar disso, não é mesmo?! Mas ele não o fez. Ele fala, sim, da influência da exposição à radioatividade na infância e que “em lugares como Hiroshima, Nagasaki e Chernobil, onde a exposição ambiental à radiação foi muito grande, a incidência de câncer da tireoide aumentou muito na população”.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE OS RAIOS X E A RADIOATIVIDADE?

Os Raios X são uma forma de radiação ionizante, ou seja, quando eles atingem um átomo podem expulsar elétrons dele para criar íons (átomos eletricamente carregados). Ao serem atingidos pelos Raios X, os tecidos do nosso organismo são modificados através de reações químicas. Esses efeitos são cumulativos, o que quer dizer que uma vez que nossas células tenham sido atingidas, o dano é permanente e irreversível. Mas qual o grau desse dano? Menor que o prejuízo de se sair no sol sem usar um boné. 

Já a radioatividade é a propriedade que alguns elementos químicos têm de emitir isótopos radioativos, e não tem nada a ver com a radiografia médica ou odontológica, ok?! Aparelhos de Raios X como os que existem em clínicas de exames por imagem e nos consultórios odontológicos não são radioativos.

ISSO FAZ ALGUM SENTIDO? NENHUM

O número de casos de câncer de tireoide está aumentando? Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), sim. Porém, isso não tem nada a ver com radiografias dentárias e mamografia… o fator que leva a esse aumento não é totalmente conhecido, mas o crescimento do volume de diagnósticos pode ser explicado. As mulheres têm características hormonais bem específicas, que nos deixam mais suscetíveis, mesmo.  Além disso, nós vamos mais ao médico que os homens, e recentemente – no Brasil – os ginecologistas incluíram na rotina o exame de tireoide. Dessa forma, era esperado o aumento do número de diagnósticos. Ainda, parece haver uma “epidemia” mundial de super-diagnóstico de câncer de tireoide.

A tal “pestana” de que o hoax fala é na verdade um protetor de chumbo que vai “enrolado” no pescoço. Ele pode ser usado na tomada radiográfica ou na mamografia, sim… só que não precisa (veja o que a Portaria 453 fala sobre isso). Na radiografia panorâmica, por exemplo, ele só atrapalha e, muitas vezes, a borda dele até aparece na imagem. Se você quer uma imagem bem feita “de primeira” (ou seja, com muito menos chance de ter que repetir a tomada e expor o paciente 2 vezes à radiação), melhor não usar. Não bastasse isso, a radiação secundária gerada é maior quando do uso de proteção plumbífera…

Já de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, “o uso do protetor de tireoide em exames de mamografia não é recomendado na rotina, devendo ser utilizado apenas nos casos em que a paciente solicite. É importante sempre informar que a utilização dos protetores pode, inclusive, atrapalhar o exame, pois se não for bem colocado na paciente, pode ser a causa de repetição nos casos em que a sua imagem se sobrepõe à imagem da mama”. Ou seja, assim como na radiografia panorâmica, além de não ajudar, atrapalha. Mas se o paciente quiser… ponha nele, uai.

E QUANTO DE RADIAÇÃO SE ABSORVE EM UM EXAME DESSES?
Observe o diagrama abaixo:
A radiação em perspectiva

Em uma radiografia no consultório do dentista o paciente absorve uma dose de cerca de 0,00001 rad. Pra que houvesse risco aumentado de você ter câncer, seria preciso fazer 100 MIL radiografias em um único ano. Isso pra aumentar o risco, não pra você realmente ter câncer. Tem mais radiação num dia de sol – à sombra – e na comida que a gente come do que numa tomada radiográfica odontológica. A dose de radiação absorvida pela tireoide é cerca de 1% da dose que se recebe em 3 dias de exposição à radiação natural de fundo (a radiação a que estamos expostos diariamente, não dá pra fugir dela). Percebem como a preocupação a respeito é exagerada?

Enfim… por favor, parem de compartilhar esse tipo de informação, porque ela não salva “as mulheres do seu grupo”, pelo contrário, faz as mulheres ficarem com medo de fazer mamografia e, as pessoas em geral, de fazer radiografia no dentista. Sem esses exames uma doença importante pode ficar escondida e, pela demora no diagnóstico, até levar à morte. Se há indicação pra isso, não tenha medo de fazer exames de imagem. O benefício é infinitamente maior que o custo biológico.

Você não é obrigado a entender do assunto, mas antes de compartilhar é obrigação sua, sim, conversar com alguém que entenda pra ver se é verdade. Se você não pretende fazer isso, não compartilhe. Isso vale pra tudo.

Fonte: Odontodivas

Leia um post completo (infográficos, tabelas comparativas and whatever) sobre o assunto aqui –> A Radiação em Perspectiva

Leia também –> Raio X faz mal?

Leia na íntegra o esclarecimento Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem sobre o uso de protetor de tireoide durante a mamografia

Veja o posicionamento da American Association of Physicists in Medicine sobre o sensacionalismo que leva as pessoas a terem medo de se submeterem a exames de imagem

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